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Uma breve intervenção terapêutica focada na compaixão pode ajudar pais autocríticos e seus filhos: um ensaio clínico randomizado.

Título em inglês: A brief compassion focused therapy intervention can help self-critical parents and their children: A randomised controlled trial.


Referência:  Kirby JN, Hoang A, Ramos N. A brief compassion focused therapy intervention can help self-critical parents and their children: A randomised controlled trial. Psychol Psychother. 2023 Sep;96(3):608-626. doi: 10.1111/papt.12459. Epub 2023 Mar 9. PMID: 36892093.


*A revista Psychology and Psychotherapy: Theory, Research and Practice (abreviada Psychol. Psychother.: Theory Res. Pract.) apresenta os seguintes indicadores:  Fator de Impacto (Journal Impact Factor – JIF, Web of Science / Clarivate). De acordo com o JCR (Journal Citation Reports, Clarivate, junho de 2024), o JIF mais recente (referente a 2023) é de 2,6 O JIF de 5 anos, segundo fontes do WoS (Web of Science Journal), é 3,7. Segundo bases como Scopus / SCImago, o 'impact score' mais recente (referente a 2023) é aproximadamente 3,90, com posição em Q1 em psicologia clínica.





Resenha feita por: Dra. Tatiana De Nardi- CRP 07/13131- Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia; Especializanda em Terapia Focada na Compaixão pela AMEC e atual diretora financeira da AMEC.


Introdução

O estudo conduzido por Kirby e colaboradores (2023) investigou os efeitos de uma intervenção breve baseada na Terapia Focada na Compaixão (TFC) em pais autocríticos, buscando avaliar mudanças não apenas na autocrítica, mas também no estilo parental e nos desfechos emocionais e comportamentais dos filhos. Trata-se de um ensaio clínico randomizado (RCT) que representa um avanço metodológico relevante na área, ao articular a perspectiva da compaixão com a prática parental.


Metodologia: força e originalidade

A pesquisa foi estruturada em um delineamento misto 2 (condição: intervenção vs. controle em lista de espera) × 2 (tempo: pré e pós-intervenção), com seguimento adicional aos 3 meses apenas no grupo intervenção. Foram incluídos 102 pais (em maioria mães), selecionados por apresentarem níveis elevados de autocrítica na criação dos filhos. O ponto central da metodologia foi a utilização de uma intervenção extremamente breve — um seminário de apenas 2 horas, combinando psicoeducação sobre compaixão, práticas de respiração, mindfulness e exercícios de cultivo do self compassivo. Os participantes receberam ainda áudios guiados para prática posterior.


A escolha de uma intervenção curta é metodologicamente inovadora, pois visa aumentar a aderência e viabilidade em contextos clínicos e comunitários, considerando a realidade de pais sobrecarregados. Além disso, a avaliação utilizou instrumentos padronizados e validados para medir autocrítica (FSCRS), estilo parental (Parenting Scale), sintomas emocionais e comportamentais das crianças (SDQ), bem-estar (WEMWBS), entre outros, o que reforça a robustez dos dados.


Críticas e limitações

Apesar de bem estruturada, a metodologia apresenta limitações reconhecidas pelos autores. O grupo controle foi apenas de lista de espera, sem comparação com outro tipo de intervenção ativa (como treinamento parental ou mindfulness), o que limita inferências sobre especificidade do efeito da CFT. Além disso, não houve monitoramento da frequência de prática dos áudios pelos participantes, variável potencialmente moderadora dos resultados.


Outro ponto é que as mudanças no estilo parental foram mais evidentes somente no seguimento de 3 meses, sugerindo que os efeitos da intervenção breve podem depender de maior tempo ou prática sustentada. E, por fim, a amostra foi composta principalmente por pais de nível educacional alto e predominância feminina, reduzindo a generalização para outros contextos socioeconômicos.


Resultados


Autocrítica

·        Redução significativa da autocrítica de inadequação logo após a intervenção, mantida aos 3 meses.

·        Aumento de autorreasseguramento observado no seguimento.


Autocompaixão

·        Aumento significativo na capacidade de agir com autocompaixão após a intervenção, crescendo ainda mais até o seguimento.

·        Também houve melhora no engajamento com autocompaixão ao longo do tempo.


 Bem-estar e estresse

·        Melhora significativa no bem-estar mental logo após a intervenção, mantida aos 3 meses.

·        Redução sustentada do estresse percebido.


Desfechos das crianças

·        Redução de sintomas emocionais e problemas de relacionamento logo após a intervenção.

·        Aos 3 meses, melhorias ampliadas em sintomas emocionais, conduta, hiperatividade e relações com pares.


Estilo parental

·        Sem mudança imediata no estilo parental;

·        Após 3 meses, redução significativa em hostilidade e tendência de menor verbosidade.


Motivação

·        Redução das metas de autoimagem (menos necessidade de parecer “bom” aos olhos dos outros) no seguimento.

·        Sem mudanças nas metas de compaixão.


Sem mudanças

·        Medos de compaixão e vergonha não apresentaram mudanças significativas.

 

Conclusão

Em síntese, o estudo de Kirby et al. (2023) apresenta um modelo metodológico criativo ao testar uma intervenção breve de CFT para pais, utilizando medidas múltiplas, seguimento longitudinal e análises robustas. Apesar das limitações, os achados apontam para o potencial da compaixão como recurso clínico para reduzir autocrítica parental e melhorar indicadores de bem-estar familiar, representando uma contribuição importante para a literatura em parentalidade e psicoterapia baseada em compaixão.

 

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