Questionário de Inclinação à Vergonha: Desenvolvimento e evidências de validade
- Mente Compassiva
- 4 de dez.
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Atualizado: 5 de dez.
Referência: Campos, J. O. C., & Gauer, G. (2025). Questionário de Inclinação à Vergonha: Desenvolvimento e evidências de validade. Avaliação Psicológica, 24,e24312. https://doi.org/10.15689/ap.2025.24.e24312
Link de acesso: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1677-04712025000100115&script=sci_abstract&tlng=pt
Resenha crítica feita por: Dra. Tatiana De Nardi- CRP 07/13131 - Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia; Especializanda em Terapia Focada na Compaixão pela AMEC e atual diretora financeira da AMEC.
O artigo brasileiro de Campos e Gauer (2025) apresenta a construção e validação inicial do QIV-18, um instrumento psicométrico destinado a avaliar a inclinação à vergonha conforme o Modelo Evolutivo Biopsicossocial de Paul Gilbert. A proposta do estudo nasce da constatação de que as medidas existentes apresentam limitações conceituais e psicométricas importantes, frequentemente restringindo-se à vergonha internalizada ou externa, sem integrar dimensões emocionais e comportamentais fundamentais ao constructo.
A amostra do estudo foi composta por 916 participantes com idades entre 18 e 73 anos (M = 26,67; DP = 9,36). Houve predominância de mulheres (66,48%), de pessoas com ensino superior incompleto (65,93%) e que não trabalhavam no momento (59%). Em termos geográficos, a amostra concentrou-se na Região Sul (65,5%), seguida da Região Nordeste (25,76%), caracterizando um grupo majoritariamente jovem e universitário. A construção do instrumento seguiu rigor metodológico, incluindo análise de juízes, pré-teste com a população-alvo e subsequente análise fatorial confirmatória. A estrutura de três fatores — vergonha interna, vergonha externa e comportamentos de submissão — apresentou excelente ajuste (CFI/TLI = 0,99; RMSEA = 0,04) e elevados índices de consistência interna.
O artigo destaca que o QIV-18 apresenta potencial clínico relevante, especialmente no contexto da Terapia Focada na Compaixão, na qual a vergonha é compreendida como um fator transdiagnóstico central. O instrumento pode auxiliar na identificação de padrões de autocriticismo severo, sentimentos de inadequação e percepções de desvalorização social, além de comportamentos de submissão que frequentemente mantêm ciclos de sofrimento. As correlações encontradas com sintomas de ansiedade, depressão, baixa autoestima e vergonha externa sugerem que o QIV-18 pode contribuir para formulações clínicas mais precisas, bem como para monitorar mudanças ao longo da intervenção psicológica.
Embora apresente contribuições significativas, o estudo possui limitações, como a representatividade restrita da amostra e a ausência de análises com populações clínicas ou de invariância entre grupos. Ainda assim, o QIV-18 se consolida como uma ferramenta promissora para estudos e práticas terapêuticas que buscam compreender, avaliar e intervir nos processos relacionados à vergonha, ampliando o repertório de instrumentos psicológicos disponíveis no Brasil.


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