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Afinal o que é a compaixão?

Atualizado: 28 de mai.

Reflexões sobre o bem-estar




Compaixão talvez seja uma das palavras mais utilizadas em nosso cotidiano sem nos percebermos quantas coisas diferentes queremos dizer. Em nossas conversas ela pode falar sobre nossa conexão mais íntima com nosso senso de sagrado até nossos sentimentos de piedade para com os outros. Podemos repetir esta palavra várias vezes ao dia como uma forma de nos sentirmos melhor ou até mesmo sentirmos uma aversão a ela por a identificarmos com uma estereotipia.


Mas, afinal o que é a compaixão? É um sentimento, uma emoção, uma postura benevolente? 

Num universo de muitos significados, é difícil apreendermos apenas um sentido para o que ela pode representar.


Vivemos hoje em uma busca incansável por nos sentir bem. No mundo das redes sociais estamos expostos ao "mercado do bem-estar". É difícil não se sentir em falta consigo mesmo por não se sentir um "pouco melhor do que deveria". Somos inundados por uma profusão de imagens de sucesso pessoal. E, muitas vezes, nos sentimos ainda mais culpados ao olhar para pessoas que sabem resolver seus conflitos, criar seus filhos e promover transformações sociais com suas ações. Por que é tão fácil sermos vulneráveis à indústria do bem-estar?

Porque sem perceber em poucos minutos compramos um curso na esperança de nos sentirmos melhor?

Será que somos tão ingênuos assim?


Este desconforto constante pode nos conduzir de uma forma muito particular para a compaixão. Na perspectiva das ciências psicológicas, a compaixão nos leva para uma sensibilidade frente ao sofrimento - nosso e dos outros. É preciso coragem para tolerar nosso desconforto e nossa dor. É preciso mais coragem ainda para olhar para o sofrimento do mundo e não nos sentirmos paralisados e impotentes.


Mas, então, esta sensibilidade não traz bem-estar?

"Prefiro procurar o bem e atenuar minhas dores com imagens da internet que me engrandecem.”

"De sofrimento já basta a minha realidade.”

A coragem de olharmos mais profundamente para nossa natureza e condição, talvez seja um dos benefícios mais íntimos da compaixão, à medida que somos capazes de nos tolerar e tolerar as dores e feridas que causamos tanto a nós mesmos e aos outros. Nos conectar nesta forma de coragem e clareza talvez nos ajude a sair da passividade e nos impulsione a tomar uma ação.

A ação do cuidar.


A compaixão nos compromete com uma ação cuidadosa. O cuidado, talvez, seja um dos traços mais marcantes dentro de nossa história evolutiva. Um traço que nos torna genuinamente humanos.

Não podemos resistir a esta necessidade incansável de nos sentirmos melhor. Competimos por ela. Construímos sociedades complexas que lutam entre si, que está organizada pela desigualdade, discriminação e por um irresistível prazer pelo poder. Não podemos deixar de sermos quem somos, mas podemos cuidar disso.


A compaixão nos convida a agir frente à dor, por meio da consciência do cuidado. Nosso cuidado humano está repleto de erros e acertos. Às vezes nos sentimos bem, outras vezes nem tanto. Talvez possamos nos desafiar a sermos pessoas melhores como um todo, incluindo todas as nossas partes. Há momentos em que acertamos conosco mesmos e erramos com os outros, outras vezes acertamos com os outros e erramos conosco.

Uma das sensações mais difíceis que podemos experimentar é o olhar de desaprovação dos outros diante das nossas ações. Somos tomados de uma onda de desconforto que pode nos levar a lugares do corpo e da mente onde a sensação do desamparo pode gerar vergonha e a autocrítica. E, com isso, tentamos nos moldar para sermos aceitos por aqueles que, muitas vezes, sequer se importam conosco.


A compaixão, com sua coragem de se voltar para o desconforto, nos ajuda a encontrar uma força interna para agir. Uma ação que cuida. Que alivia, dentro do possível.

Esta ação, por vezes, precisa ter a força de interromper e prevenir relações abusivas em muitas dimensões de nossa sociedade, desde as situações familiares, aos abusos comunitários e políticos.


Sofrimento, coragem e comprometimento com ações que gerem benefício para si e para os outros são portas de entrada para as nossas experiências mais íntimas.

Será que me sinto capaz de me cuidar?

Será que posso cuidar dos outros?

Será que me permito ser cuidado?


Difícil responder a essas perguntas se nossa vida está atravessada pelo medo. Aquele medo profundo de me sentir inferior às conquistas dos outros. O medo de que nos predispõem a uma enorme reatividade.

Uma outra forma de respondermos a estas perguntas poder partir de um estado de conexão com os outros baseado na confiança e na colaboração. Quando dirigimos nossos olhares para o importa particularmente na vida de cada um, estamos construindo um ambiente onde seria possível as pessoas serem quem elas são.

Talvez seja uma marca da esperança.

Talvez isso seja compaixão.

 

Imagino que você possa se propor a fazer a sua conexão pessoal, com toda sua história de dor, perdas, alegrias e conquistas e gentilmente, permitir-se ser quem você é.


E afinal o que compaixão para você?



Texto de Gustavo Giovannetti



Leitura sugerida:

The Compassionate Mind. Gilbert P. De. Robinson, 2009

Terapia focada na compaixão. Aplicações e prática clinica. Simos & Gilbert. Arte e, 2024.


Minhas músicas sugeridas:

Max Richter - todos os seres humanos (Narrado por Maria Valverde). Álbum: All human beings, 2020.

Wellcome. John Coltrane, album: Transition, 1965.

Malcom’s Theme. Kamasi Washington, album: Epic, 2015.

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